quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Livros e suas Qualidades

Hoje comprei um livro. É um livro técnico, sobre a confecção de maquetes, e por mais que a atividade me agrade, um livro para a faculdade não costuma empolgar muito qualquer ser humano.

Às vezes acho que eu sou louca, pois a simples atividade de entrar numa livraria me trás prazer. Não é só o ato de caminhar por entre as prateleiras, e ler de relance os títulos e tentar entender as capas. Gosto do cheiro (sei que as lojas tem odores próprios, e que isto é intencional, mas é a mistura de todos eles). Cheiro de livro novo, misturado com café expresso, e até um pouco de poeira. E o prazer não termina aí. Este é só um convite, o primeiro motivo para simplesmente entrar na loja. Depois têm aquelas prateleiras enormes e a sensação que você é tão pequeno e leu tão pouco na vida. Isso me faz querer ler mais (e é claro consumir) e saber mais... Então começo a rodar pela sessão de novidades, lendo os títulos e parando nas capas bonitas e interessantes. É quase como paquerar. Passear numa livraria é um constante flerte. Eu olho para o livro, e sim, o julgo pela capa. É o cartão de visita: "Ei, me pegue e leia minha orelha!". Mas eu não gosto de ler orelhas. São informações valiosas, e às vezes estragam algumas surpresas no caminho da leitura. Quantas vezes peguei um livro emprestado, sem saber sobre o que se tratava, simplesmente por uma recomendação positiva, e me deliciei com cada detalhe? E quando, por curiosidade, li a orelha após alguns capítulos e fiquei horrorizada por ela contar momentas tão emocionantes da trama, assim, de graça? Absurdo!
Mas voltando ao flerte, ele me olha, me convida a pegá-lo, ler a orelha (grrr), e eu olho de volta, me perguntando sobre o que será aquele livro. Será a história tão boa quanto à capa? (será que ele beija tão bem quanto dança?)
E posso ficar horas simplesmente passeando, olhando, folheando, sem ler praticamente nada. Sempre que tenho tempo para gastar no shopping, vou à uma livraria, e me distraio, chego atrasada e me prometo que não vou mais fazer isso. Mentira.

Às vezes a paquera dá resultado. Como hoje, que comprei esse livro. É pequeno, barato e eu meio que precisava. Tento me controlar para não comprar a loja inteira, porque sou compulsiva, mas meu pai alimentou em mim um sentimento que ler nunca é demais, portanto, comprar muitos livros não é pecado.

Depois de satisfeito o desejo e compulsão, começa um novo jogo de prazer. Abrir o livro, agora que é meu, folhear, e me encher de expectativas e já me sinto mais inteligente e sábia, só por possuir o meio para isso. 

Mas, para mim, uma das coisas que mais gosto, é de cheirar as páginas dos livros. E o mais interessante é que cada um tem o cheiro próprio. Livro novo é uma delícia. A depender do material das páginas, o cheiro muda. Mas aí mistura com a tipo da tinta de impressão e do material da capa. Além disso, tem o tempo que ele esteve na prateleira, de onde veio... São tantas variáveis. E, quando encontramos combinações parecidas, o cheiro faz lembrar de uma outra história, um outro momento, sentimentos... É um mundo cheio de nuances.

Hoje me surpreendi quando cheirei o meu livro novo sobre maquetes, e senti o cheiro das minhas aulas de inglês. Aqueles livros texto de curso de inglês fizeram parte de boa parte da minha vida, e de um momento bem peculiar. O cheiro é idêntico. Acho que é o tipo de papel que trouxe essa semelhança. Tem anos que não faço inglês, mas cheirar meu pequeno livro novo me faz sentir como se estivesse naquelas salas apertadas, frias, com carteiras em U, o cheiro de hidrocor de quadro branco, e uma sensação de curiosidade misturada com uma leve confusão e uma diversão controlada. Essas eram as minhas aulas de inglês e o simples ato de abrir esse novo livro, que não tem nenhuma palavra em inglês escrita, me faz voltar no tempo.

Para mim, já foi uma experiência bastante diferente, mas qual foi a minha surpresa quando um amigo pediu para ver o meu livro, abriu, cheirou (hábito que não vejo em muitas pessoas) e disse que tinha cheiro de Magic. Bom, primeiro discordei, porque já tinha fixado toda a imagem de aula de inglês, mas eu acabei pegando e cheirando com "outro nariz" e percebi que era verdade. Então uma nova viajem começou. Sim, eu já joguei Magic e foi por bastante tempo, a ponto de lembrar do cheiro de um pacote recém aberto. Então comecei a sentir saudade da minha época mais nerd, em que jogava qualquer tipo de RPG e jogos, o máximo que podia. Depois eu cresci e fiquei sem tempo, mas nunca deixei de gostar. Aliás, minha "nerdisse" chegou à outro ponto. Na época do Magic, a minha internet era discada (acho que a de todo mundo) e não poderia nunca baixar séries, animes, filmes, e outros... Agora posso, além dos jogos, e sites interessantes. Mas sinto falta do coisa mais manual, das cartas, do tabuleiro, dos dados... E tudo isso tem cheiro. E o simples fato de cheirar meu livro novo me trás todo esse mundo de volta. Depois dizem que viajem no tempo nunca será possível. Mentira. Eu já faço!

Além dos prazeres do cheiro, das memórias e conhecimento, essa experiência toda me rendeu mais uma coisa. Uma promessa de não só re-lembrar o passado, mas revivê-lo. Esse amigo e eu, marcamos de jogar Magic novamente um dia desses. Uma pena que as cartas não tenham mais o mesmo cheiro (hoje igualmente interessantes), mas vai valer muito!